Segundo o Wikipédia, o crowdsourcing’ é um modelo de produção que utiliza a inteligência e os conhecimentos coletivos e voluntários espalhados pela internet para resolver problemas, criar conteúdo e soluções ou desenvolver novas tecnologias.

O Wikipédia é um exemplo de uma produção feita através do sistemacrowdsourcing’. E ninguém pode negar que essa enciclopédia virtual, feita por todos e para todos, é uma mão na roda para as pessoas que desejam fazer pesquisas sobre os mais variados assuntos. Todos nós recebemos os benefícios desse trabalho coletivo, feito gratuitamente.

De uns tempos para cá, algumas empresas resolveram tirar proveito da boa vontade coletiva. E, infelizmente, o ‘crowdsourcing’ também ganhou novos e indesejáveis significados:

‘O crowdsourcing é o ‘novo lugar da mão-de-obra barata: pessoas no dia-a-dia usando seus momentos ociosos para criar conteúdo, resolver problemas e até mesmo para pesquisa e desenvolvimento’.

Recentemente, um colega ilustrador recebeu a seguinte mensagem:

“Olá Fulano,
Gostamos bastante do seu portfolio e gostaríamos de convidá-lo a participar da nossa
comunidade criativa. Somos o XXXX, a primeira agência colaborativa do mundo. Seria uma honra para nós sua participação em nossa comunidade. Para isso visite nosso site www.xxxx.com.br”

Você deve ter pensado: Uau! Que cara de sorte! Foi escolhido para fazer parte de um grupo seleto!  Hum… Mas será que o colega é mesmo um sortudo?

Vamos ver como funciona a ‘Agência Colaborativa’:

1)     Um cliente precisa de um Logotipo ou de uma ilustração.
2)     O cliente decide quanto quer pagar pelo trabalho.
3)     ‘Talentos criativos’ participam de uma concorrência.
4)     O Cliente escolhe o melhor trabalho e faz o pagamento.

Vamos analisar a participação dos três personagens envolvidos nessa história:

O Cliente:
Ele decide quanto quer pagar, recebe uma porção de ideias do mundo todo e escolhe aquela que lhe agrada. Ele não tem muita noção de Design ou de Ilustração e vai ter que confiar no seu ‘taco’ para escolher a melhor opção.  Na maioria das vezes fica perdido sem saber qual caminho deve seguir, uma vez que não contará com ajuda profissional para orientá-lo sobre estratégias de Marketing e Posicionamento.
Mas, felizmente, ele vai pagar um valor que ele mesmo escolheu. Então, se não der certo, o prejuízo não será tão grande assim…  Afinal, a imagem da empresa é um ‘pequeno detalhe’, que pode ser feito por qualquer ‘criativo’. (!)

A Agência Colaborativa:
Recebe o pedido do cliente, passa o briefing para um monte de designers, ilustradores ou qualquer pessoa que aceite trabalhar no risco.  Ele espera as opções chegarem, repassa para o seu cliente, espera ele escolher uma opção e… Espera o doce tilintar da caixa registradora…
Como a empresa tem vários projetos em andamento, os pagamentos vêm aos montes.. Uhu!!.. Como é bom ganhar dinheiro sem ter que correr riscos e sem ter que colocar a mão na massa!! Só esperando, esperando….

Você Ilustrador/Designer:
Passa horas do seu precioso tempo elaborando um trabalho bem bacana, envia para a ‘Agência Colaborativa’ e depois, claro, como você é um cara bastante religioso, vai correndo rezar para o seu santo protetor, para ter a sorte de conseguir vencer a bendita concorrência… Afinal, você quer levar a sua namorada para passear e precisa daquela grana urgentemente…
Se não der certo, bem, você vai lá na ‘Agência Colaborativa’ e tenta outro projeto… E outro… E outro…. E outro… (Já experimentou jogar na loteria?…)

A principal diferença entre o Wikipédia e o caso das ‘Agências Colaborativas’, é que no primeiro caso, o benefício será coletivo. Todos na rede poderão usufruir da enciclopédia.

Já no caso das agências…. Quem você acha que estará se beneficiando do trabalho colaborativo?

Pense bem!

Veja um VÍDEO muito bom sobre o assunto (em inglês)

Vale à pena ler também a opinião do designer Guilherme Sebastiany sobre o assunto:
“Não é correto ter à sua disposição, mesmo que por vontade própria, pessoas que trabalham de graça, sem registro, sem apoio, sem infra-estrutura, sem segurança social, sem salário, sem registro em carteira e que apenas são remuneradas se o seu trabalho é vencedor.
Isso é chamado EXPLORAÇÃO, facilitada pelos meios digitais, que legitimam a não existência de um vínculo empregatício.” – Guilherme Sebastiany